Porque o camaleão muda de cor

Há muitas e muitas luas, a lebre e o camaleão eram amigos inseparáveis.

Naquele tempo, o interior da África era percorrido a pé por longas caravanas. Todos carregavam pacotes e cestos à cabeça, repletos de cera e de borracha, que trocavam por panos coloridos nas vendas dos comerciantes brancos nas vilas situadas junto ao mar.
A lebre e o camaleão, tão logo ouviam o cântico e o alarido dos carregadores, se arrumavam rapidamente para seguir atrás dos homens.
Os dois gostavam de fazer negócios também e, com suas pequenas trouxas, marchavam na retaguarda das alegres comitivas. Os carregadores traziam guizos e campainhas nos tornozelos, fazendo uma barulheira infernal, que servia para afugentar as feras do caminho.
A lebre, sempre apressada, fazia tudo correndo. Assim que chegava à loja do homem branco, trocava rapidinho sua cera por tecidos multicores e dizia para o camaleão:
- Já estou indo - e sumia pela mata afora.
O camaleão, muito calmo, respondia:
- Não tenho pressa - e regressava lentamente para a imensa floresta.
A lebre, atabalhoada, ia perdendo pelos atalhos tudo que conseguia, por causa das suas correrias insensatas.
E por essa razão que a apressadinha anda até hoje vestida com um pano cinzento, sujo e desbotado.
O lento e responsável camaleão juntou muitos tecidos das mais variadas tonalidades, e é por isso que ele pode trocar de cor a toda hora.

Fábula de origem tchokué, uma etnia angolana

2 comentários:

  1. Oi,
    Esta fábula fazia parte do meu livro de Língua Portuguesa da Primária.
    E foi-nos dito que é de origem tchokué, uma etnia angolana.
    Deixo-vos aqui a versão do livro:

    A Lebre e o Camaleão (fábula tchokué)

    A lebre e camaleão
    À feira, nos tempos idos
    levaram borracha e cera
    para trocar por tecidos.

    A lebre no seu fadário
    a correr de repelão,
    logo passou adiante
    do lento camaleão.

    - Cá vou eu! - dizia a lebre.
    - a tempo chegarei eu!
    - responde o camaleão,
    no jeito com que nasceu.

    Os lindos panos trazidos
    em breve a lebre perdia,
    em percalços resultantes
    da pressa com que corria.

    Por isso, ela ainda usa
    sujo vestido cinzento;
    e panos de várias cores
    tem o outro, o pachorrento!

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