Saiu da toca aturdido
Daninho pequeno rato,
E foi cair insensato
Entre as garras de um leão.
Eis o monarca das feras
Lhe concedeu liberdade.
Ou por ter dele piedade,
Ou por não ter fome então.
Mas essa beneficência
Foi bem paga, e quem diria!
Que o rei das feras teria
Dum vil rato precisão!
Pois que uma vez indo entrando
Por uma selva frondosa,
Caiu em rede enganosa,
Sem conhecer a traição.
Rugidos, esforços, tudo
Balda sem poder fugir-lhe;
Mas vem o rato acudir-lhe
E entra a roer-lhe a prisão.
Rompe com seus finos dentes
Primeira, e segunda malha;
E tanto depois trabalha,
Que as mais também rotas são.
O seu benfeitor liberta,
Um dívida pagando,
E assim à gente ensinando
De ser grato a obrigação.
Também mostra aos insofridos,
Que o trabalho com paciência
Faz mais que a força, a imprudência
Dos que em fúria sempre estão.
O leão e o rato
Jean de La Fontaine
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