O lobo e a cegonha

Vorazes comem lobos;
Nada lhes vence a gana;
Eis o que fez um deles
Em farta comezaina

Tão sofrego engolira,
Sua avidez foi tanta,
Que de través lhe fica
Um osso na garganta.

Sentindo-se engasgado
E sem poder gritar.
Julgou-se na agonia
E prestes a espirar.

Uma cegonha (ó dita!)
Passa dali vizinha;
Chamada por acenos,
Vem acudí-lo asinha.

Com grande habilidade
Procede à operação;
Retira o osso - e a paga
Requer do comilão.

"A paga! (exclama o lobo)
Comadre! Estás brincando!
Pois não te deixo livre,
A vida desfrutando?

Não me saiu dos dentes
Tua cabeça intata?
Vai-te e das minhas garras
Cuida em fugir, ingrata!" 

Jean de La Fontaine

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