A raposa e o esquilo

Dos miseráveis não se deve escarnecer: 
Quem pode assegurar que só feliz vai ser? 
Nas fábulas do sábio Esopo, mais 
De um exemplo nos vem de casos tais. 
Certa história, em vez deles, me parece 
Que lição mais autêntica oferece. 
A raposa do esquilo escarnecia, 
Vendo-o assaltado por feroz tormenta. 
- Eis-te no esquife quase a repousar - dizia - 
Em vão tentas cobrir com a cauda o rosto. 
Quanto mais sobes, mais a borrasca violenta 
A seus golpes fatais te encontra exposto. 
Ter por vizinho o raio e estar sempre na altura 
Quiseste, e foi teu mal. Eu, numa toca obscura, 
Posso rir-me e esperar que sejas feito pó." 
Nossa raposa, enquanto assim se vangloriava, 
Muitos pobres franguinhos devorava 
De uma dentada só. 
Por fim, do irado céu tem o esquilo perdão: 
O relâmpago cessa, emudece o trovão, 
Dissipa-se a tormenta e retorna a bonança. 
E um caçador, havendo descoberto 
Os rastros da raposa, diz: "por certo, 
Meus frangos vais pagar!" 
Numerosos sabujos logo lança, 
Que a vão do seu covil desalojar. 
Vê-a o esquilo fugir, veloz, à frente 
Da matilha que a acossa ferozmente. 
Sentir prazer gratuito poderia, 
Ao se abrirem para ela as portas da agonia; 
Mas, vendo-o, não se ri: na mente 
Traz restos do susto recente.

Jean de La Fontaine

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