O corvo que quis imitar a águia

Um dia a ave de Júpiter roubou
E levou pelos ares um carneiro.
Um corvo que a façanha presenciou,
Mais fraco, mas glutão também e aventureiro,
Quis fazer outro tanto sem tardar.
Girou voando em torno do rebanho
E entre cem escolheu, por seu tamanho,
Gordo e belo carneiro, um soberbo exemplar,
Que entre os demais se tinha reservado,
Por isso mesmo, a ser sacrificado
Para a boca dos deuses contentar.
Dizia o corvo alegre, engolindo-o com o olhar:
Não sei dizer quem te haja amamentado;
Só sei que tens o corpo em belo estado;
Assim me servirás de sadio alimento.
Isto dizendo, num momento,
Sobre o animal caiu. Mas como era pesado!
Pesava mais que um queijo! Além disso, o tosão
Era espesso ao extremo,
Mais ou menos revolto e em confusão
Como as barbas do imenso Polifemo,
Tornou-se esse tosão um grande estorvo
Pois as garras prendeu do pobre corvo.
Não pôde este fugir. O pastor o agarrou
E sem demora o engaiolou.
Depois se foi, levando-o então
Para aos filhos servir de diversão.

Meçamos nossa força; é clara a conseqüência:
O pequeno ladrão nunca é bom salteador.
O exemplo é perigoso engodo da imprudência:
O vil explorador não é grande senhor.
E onde o tavão passa ileso,
O mosquito fica preso.

Moral da Estória:
Quem quiser arriscar-se a uma façanha deve antes verificar se suas forças serão suficientes.


Jean de La Fontaine

0 comentários:

Postar um comentário