Fui chamado à cidade
No mês do Natal um dia,
Pera eu feitorizar
Grande casa morgadia:
E levei, p'ra meu negócio,
Uma cabra, sua cria,
Um porco e um carneiro,
Comigo de companhia.
Vai o porco vagaroso,
Arrastado bem par'cia;
Todos os mais vão calados,
Só o porco se carpia;
Os gemidos que ele dava
A cabra não os sofria:
- Cal'-te porco. Porque choras?
(A cabra ao porco dizia)
Vês o carneiro calado,
Eu calada também ia;
O filho que vai comigo
Nem de mamar me pedia.
Pára tu já de grunhir,
Que ninguém te sofreria
Por tão longa caminhada
Tão seguida gritaria.
O porco, sem se calar,
Estas razões respondia:
- Cada qual conta da festa
Como na festa lhe iria.
Vocês vão viver no pasto
Com farta comedoria,
O carneiro, p’ra dar lã,
E tu, leite cada dia:
Mas cá eu, só dou toicinhos,
Só minhas carnes daria;
Tenho meus dias contados,
Só me espera a agonia.
Tinha o porco razão.
Quem também não chiaria?
Pola festa do Natal
O triste porco morria.
Esopo
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