Uma promessa esquecida

Quando começou a escurecer, um vento frio e cortante começou a soprar nas encostas. Juntamente com as frias rajadas, vinham nevascas e cortantes cristais de gelo. Já não se via mais o quente sol da tarde e as encostas das montanhas estavam escuras e geladas, na verdade, perigosas.
Perdidas no ruído do vento uivante, duas pequenas vozes se ouviam:
- P... P... P... Puxa, está realmente frio h... hoje!
- Se ficar mais frio podemos até morrer. Podemos morrer congelados neste mesmo lugar!
- Sinto que minhas unhas estão congeladas nos meus pés. Se tivéssemos feito um ninho, à tarde, em vez de brincar o dia todo... Oh! está tão f... frio!
Essas vozes eram de dois passarinhos que, como duas bolas de penugem, aconchegavam-se no galho de uma velha árvore curtida pelo tempo, no alto da cordilheira do Himalaia.
Na altitude em que viviam, a neve dificilmente deixava a terra, mesmo em pleno verão. E durante o dia, quando o sol aparecia, esquentava tão pouco que quase não se percebia. Esse era o problema deles. Eles juraram fazer um ninho para afastar o terrível frio da noite, mas esqueciam as promessas durante o dia e esvoaçavam à procura de comida, cochilavam um pouco e brincavam sob a luz e o calor do sol. Agora, estavam amargamente arrependidos da tolice que fizeram.
- A... Acho que v... vamos morrer desta vez. O f... frio é demais. Vamos m... morrer...
- Quando o sol vier, vamos fazer um ninho. Está bem? D... Desta vez não vamos esquecer, p... pela nossa vida.
Na realidade, era tão grande o frio naquela noite, que eles não conseguiram nem dormir.
Durante a noite toda, choraram e se queixaram, prometendo fazer um ninho logo que o sol nascesse. A noite parecia durar séculos e séculos, enquanto o frio penetrava em seus ossos.
Não faltava muito para darem o último suspiro. Suas vozes enfraqueceram e os corpos caíram, ficando dependurados pelos pés que se congelaram no galho.
- Oh!... Estamos... m... morrendo!
- Logo... que... o... s... sol...
Exatamente quando parecia tarde demais, um raio dourado refletiu-se na face congelada de um penhasco e atingiu uma agulha de gelo dependurada do bico do pássaro macho. O cortante frio deve ter feito seus olhos lacrimejarem e congelado a lágrima antes que pudesse cair.
No começo não se mexeu, mas depois abriu lentamente os olhos para uma última visão neste mundo. Quando avistou o feixe dourado da luz do sol, gritou repentinamente e sacudiu-se para tirar o gelo preso nas penas.
- É o sol! Acorde! É o sol!...
- É verdade? Então não vamos morrer!
- Oh! Como é maravilhoso sentir a vida!
Seguramente, o sol subiu aos poucos pelos picos gelados das montanhas e lentamente os dois pássaros começaram a sentir o calor aquecer suas penas congeladas.
- Ah!... O sol está tão bom. Acho que vou dormir um pouco. Não conseguimos dormir a noite inteira.
- Mas... e o ninho? Conseguiremos terminá-lo se dormirmos?
- Não se preocupe com isso. Teremos muito tempo depois de dormirmos e comermos um pouco.
Assim, eles dormiram e comeram, apreciando o calor do dia. Voando pelos céus, o pássaro macho cantava:
- No conforto dos céus, nas minhas asas e canção. Quando se cansar pode sempre repousar. A vida é tão curta e o dia é longo. Quem precisa ter pressa para fazer o ninho?
Eles continuaram a brincar por várias horas até perceberem que estava começando a ficar frio. Eles olharam para o sol e perceberam horrorizados que ele estava começando a se pôr no oeste. Perceberam repentinamente que não havia mais tempo para construir o ninho antes de escurecer. Com olhares preocupados, desceram do céu e pousaram num galho.
Depois de uma pausa, o pássaro olhou para a esposa e disse com um sorriso disfarçado:
- Bem, o sol está baixando e, mesmo que comecemos, não há tempo para terminar o ninho. Vamos aproveitar o resto do sol.
Assim, eles esbanjaram o resto do dia. Não demorou muito para ficar frio outra vez.
- P... P... P... Puxa, está realmente frio h... hoje...!
- Está ainda mais f... frio que ontem!
- Se esfriar mais não v... vamos v... viver até amanhã. Oh!... está tão f... frio!
E assim, caros amigos, os dois pássaros viveram o resto de suas vidas, desperdiçando totalmente os dias e sofrendo durante as noites.

Autoria desconhecida 

Se você conhece a autoria desta fábula, por favor envie-me para que eu possa dar crédito à mesma.

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