O burro e o cavalo

Devem-se todos no mundo
Mutuamente auxiliar;
Se morrer o teu vizinho
Hás de o seu fardo agüentar.

A um cavalo pouco amável
Certo burro acompanhava;
O cavalo no costado
Somente arreios levava.

Ao peso de rude carga
Quase o burro sucumbia;
E entre arquejos ao cavalo
Algum auxílio pedia.

"Não é descortes meu rogo
(Dizia ao seu companheiro):
Metade de minha carga
Ser-vos-á fardo ligeiro.

Temo estirar a canela
Antes que chegue à cidade;
De finar-me arrebentado
Livrai-me por piedade."

Seguia o corcel, fazendo
Ouvidos de mercador;
Té que viu morrer o burro
Sob o peso esmagador.

Arrependeu-se, já tarde,
Do recusado conforto,
Pois o colmaram da carga
E mais da pele do morto. 

Jean de La Fontaine

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