Jactava-se de nobre
O burro de um prelado,
O sangue azul lembrando
Pelo materno lado.
Nascera de jumenta
De honrosas tradições,
Cujos heróicos feitos
Douraram seus brasões.
Porque fez isto e aquilo,
Cobrindo-se de glória,
Capaz se julga o burro
De figurar na história.
Um dia, em que o bispo
A um médico passou,
De ver-se rebaixado
O parvo se queixou.
Amarram-no a um moinho,
Quando em velhice cai;
Então do fidalgote
Vem à memória o pai.
Se a desgraça somente prestasse
Para em tolos juízos infundir
Inda assim fôra justo dizer-se:
"Que para alguma coisa
Nos pode ela servir."
VARIANTE
Há males que à gente vêm
Somente para seu bem.
Moral da Estória:
Se a desgraça aperfeiçoasse o discernimento dos homens, poder-se-ia considerar, pelo menos, que para algo de bom ela nos serviria.
Jean de La Fontaine
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