O burro vestido com a pele do leão

Quebrando a peia,
Fôfo sendeiro
Que era moleiro;
Dentro de um bosque,
O fanfarrão
Achou a pele
D'alto leão;
Em toda a parte
Dela vestido,
Por leão fero
Era temido;
Homens e brutos
O respeitavam,
Fugiam logo
Que o divisavam:
Mas das orelhas
Uma pontinha
De fora ao burro
Ficado tinha;
Foi visto acaso
Pelo moleiro;
Que julgou logo
Ser o sendeiro;
Indo-lhe ao lombo
Com um cajado,
Puniu o arrojo
Do mascarado;
Do tolo rindo,
Despiu-lhe a pele,
Pôs-lhe uma albarda
E montou nele.
Tal entre os homens
Mil se conhecem,
Os quais são uns,
E outros parecem,
Despem-lhe a pele
Que os faz troantes,
Ficam sendeiros
Como eram dantes. 

Jean de La Fontaine

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