O coche e a mosca

Subindo, uma ladeira, de pedras e areia,
Sob o inclemente Sol do meio dia e meia,
Seis fortes cavalos puxavam
Um colhe. Os passageiros, velhos e mulheres
Dos passageiros é este. Os animais suavam,
Quando uma mosca chega e resolve ajudá-los.
Pica este, pica aquele, e pensa que os cavalos,
Com tal incentivo, andarão.
Logo ela vai pousar no nariz do cocheiro,
Que se agita de irritação.
Pica depois um passageiro,
E então, por coincidência, o coche, enfim, se move
O mérito é só seu, segundo ela imagina,
E, qual um comandante, o caminho ela ensina,
Embora, intimamente irada, desaprove
A apatia dos comandados
Que, enquanto ela trabalha, ficavam parados,
Sem fazer, cada qual, o que era necessário.
O frade lendo seu breviário:
E são horas de ler? Uma mulher cantando
O tempo irá perder a cantar, até quando?
A mosca também canta, só que em seus ouvidos,
Mudando as canções em gemidos.
Depois de muito esforço, é transposta a ladeira.
Custou, porém valeu a pena a trabalhadeira.
Já vistes, meus amigos, quanto faço e valho:
Que paga me dareis por este meu trabalho?
Há pessoas assim, tolas e intrometidas.
Em tudo metem a colher,
Mas sua ajuda ninguém quer.
Quiser eu que elas fossem pra longe, banidas! 

Jean de La Fontaine

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