O elefante e o macaco de Júpiter

Pra terminar contenda em que renhiam,
Por ciúme de mando e primazia,
Ajustaram outrora o elefante
E o rinoceronte
Dar na estacada decisivo prélio.
Estava o dia aprazado,
Quando notícia vem de que o macaco
Do grande Jove, o caduceu trazendo,
Os ares rompe. (Gil se apelidava,
Segundo rez a história).
Eis que o elefante crédulo suspeita
Que, em tom de embaixador,
Venha ele procurar sua grandeza.
E, muito ancho de si, por honras tantas,
Aguarda mestre Gil, se bem repare
Que tarde muito em vir depor-lhe às patas
As suas credenciais.
Gil por fim decidiu-se a, de caminho,
Cortejar a Excelência.
Que aliás se dispunha pra embaixada.
Mas, nem palavra. Pois seria crível
Que depois da contenda em que travavam,
Os deuses nem notícia alguma houvessem
Da justa concertada?
Aos íncolas do céu, no entanto, pouco,
Pouco importava que elefante fosse
Ou pequenino môsco.
Enfiado, assentou de assim romper...
E disse - "Dentro em pouco, primo Júpiter
Verá do trono seu - travada rixa,
Pra sua corte diversão galante".
- Que rixa? diz o mono, carregando
Cenho. E o paquiderme então lhe volta:
"Que rixa? Então não sabes que disputa
O mando a mim o grão rinoceronte?
Que em guerra estão Rinócera e Elefântida?
Por certo que tais sítios, por famosos,
Já são de ti sabidos".
Mestre Gil replicou:
"Pois olha, estou deveras encantado
Por ouvir nomes tais, somente agora:
De tal nem se cogita em nossos pagos".
Entre surpresa e pejo, o elefante
Pergunta: "A que missão vieste agora?
- Partir entre formigas as ervilhas;
Que a tudo nós provemos.
Quanto ao caso,
Nada transpira por enquanto aos deuses,
Que em tudo igualaram grandes e pequenos. 

Jean de La Fontaine

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