Os dois ratos, o raposo e o ovo

Dois ratos, indo buscar vida, acharam
Um ovo, que jantar daria farto
A gente dessa laia,
Que de acertar c'um boi não necessita.
De apetite e folgança mais que cheios,
Cada um já se dispunha
A ter no ovo quinhão. Mas, eis que avistam
Um fuão, que se diz Misser Raposo.
Aziaga aventura!
Salvar o ovo era o ponto, enfardelá-lo,
Ir, cos dianteiros pés levando-o a pino,
Rodá-lo, ou já arrastá-lo,
Sobre arriscado, era África impossível,
Necessidade é astuta, é inventiva.
Mede a distância à toca,
Mede a distância ao sofrego raposo,
Ora de mais de légua. Eis que um se abraça
Co ovo, e se põe de costas,
Tombos sofre, sofre ásperos caminhos,
Enquanto o outro o reboca pelo rabo.
Meditem neste conto,
E não venham clamar que é nulo o juízo
Nos animais; quando eu, se em mim coubesse,
Lho dera igual à infância. 

Jean de La Fontaine

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