Na límpida corrente de um ribeiro
Mata a sede um cordeiro.
Chega um lobo em jejum que a fome atiça,
A farejar carniça.
"Ousas turvar-me as águas, malcriado?"
(Uiva o lobo irritado.)
CORDEIRO
"Rogo, senhor, a Vossa Majestade,
E com toda a humildade,
Que não se zangue com seu pobre servo;
Pois, respeitoso, observo
Que embaixo e no declive estou bebendo,
E a água vem descendo."
"Turvas (retruca o bárbaro animal);
Demais, falaste mal,
Há seis meses, de mim."
CORDEIRO
"Não é verdade;
Conto só três de idade;
Não tinha inda nascido."
LOBO
"Pois então
Falou um teu irmão."
CORDEIRO
"Não o tenho."
LOBO
"Foi um dos teus parentes,
Que me têm entre dentes;
E eu vingo-me de vós - cães e pastores,
Que sois tão faladores."
Disse, e sobre o cordeiro se despenha
E o conduz para a brenha,
Onde o come do mato no recesso,
Sem forma de processo.
Que a razão do mais forte predomina
Esta fábula ensina.
Moral da Estória:
Contra a força não há argumentos.
Jean de La Fontaine
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