Dois burros iam indo - um com carga de aveia,
Outro levando a prata da gabela.
Este, cheio de si com a carga tão bela,
Por nada a quer deixar, por tê-la sempre anseia.
Com largo passo ia a marchar
Fazendo o seu cincerro soar.
Mas surge logo - ó sorte ingrata!
Bando inimigo, e quer a prata.
Contra o burro do fisco esse bando se atira,
Pega-lhe o freio e o faz deter-se.
O burro, então, ao defender-se,
Espancando se vê: geme o pobre e suspira.
"É isto" - então diz ele - "o que foi prometido?"
Do perigo o outro burro isento se retira,
"E morro eu nele, assim batido?"
"- Amigo" - respondeu-lhe o companheiro -
"Nem sempre é bom o ter-se alto emprego no mundo.
Serviste tu, como eu, a modesto moleiro,
Não te acharias quase moribundo."
Moral da Estória:
Sofre maior risco quem tem maior responsabilidade.
Jean de La Fontaine
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